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A disputa das Ligas no Brasil: mais do que dinheiro, falta maturidade institucional

 



A discussão em torno da criação de uma liga de clubes no futebol brasileiro — dividida entre Libra e Liga Forte União (LFU) — se tornou refém de uma narrativa reducionista: tudo gira em torno da distribuição do dinheiro de TV e patrocínio. Mas por que outras questões essenciais de governança, organização esportiva e sustentabilidade de longo prazo foram deixadas de lado?

1. A miopia da discussão: só se fala de dinheiro

A obsessão por fatias do bolo midiático (direitos de TV, streaming, patrocínio) revela a imaturidade institucional dos clubes. A proposta de uma liga deveria partir de um modelo de governança sólido, com critérios técnicos de gestão, licenciamento, controle orçamentário, calendário, arbitragem, base, fair play financeiro e modelo esportivo unificado. Mas isso exige visão de longo prazo, e não barganha de curto prazo.

No fim, Libra e LFU não são projetos esportivos, são blocos de negociação comercial travestidos de organização esportiva. A ausência de um pacto institucional mais amplo mostra que ainda pensamos como feudos e não como federação.

2. Comparar com a Premier League é uma falácia

Muitos usam a Premier League como referência para criticar os modelos de distribuição. Mas a comparação é profundamente falha.

A Inglaterra tem uma distribuição de torcidas e audiência muito mais equilibrada: diversos clubes com torcidas grandes, estádios cheios, receitas comerciais sólidas e grande presença internacional. No Brasil, a disparidade de torcida e engajamento é brutal, Flamengo e Corinthians concentram a maior parte da audiência e da base de torcedores pagantes. Esperar um modelo igualitário de distribuição com uma base tão desigual é ignorar a realidade do nosso mercado.

Além disso, a contribuição de cada clube para a receita total varia enormemente. Não reconhecer isso é implodir a lógica de incentivo e meritocracia.

3. Nem na Europa tudo é igual

Outro mito é que as ligas europeias distribuem tudo de forma igual. Falso. Na La Liga, os clubes ainda negociam parte dos direitos separadamente. Na própria Premier League, embora exista uma base igualitária, há componentes variáveis por performance e audiência.

As propriedades comerciais não são todas coletivizadas, e há espaço para exploração individual de marcas, acordos internacionais e venda de ativos secundários. O discurso de "tudo 100% igualitário" não é nem realidade lá fora, por que deveria ser aqui?

4. A falácia de uma liga sem o Flamengo

Alguns flertam com a ideia de uma liga forte sem o Flamengo, como se fosse possível construir um produto atrativo à parte do maior clube em audiência, torcida e potencial de arrecadação. Isso é um delírio.

Primeiro, não há base legal para excluir o Flamengo da disputa esportiva, o clube tem o direito de disputar o campeonato nacional. Segundo, as tentativas recentes de formação de blocos (Libra sem Flamengo; LFU sem Flamengo) deixaram claro que o clube representa um ativo estratégico na mesa de negociações.

A presença do Flamengo valoriza cota, atrai patrocinadores, aumenta o interesse do mercado internacional e engaja milhões de torcedores. Tirar o Flamengo da liga é amputar o produto.


Conclusão

O Brasil ainda não entendeu que o futebol não se organiza só com promessas de dinheiro. Sem governança, sem visão, sem compromisso institucional, não há liga que sobreviva com ou sem Flamengo. O que está em jogo não é só o dinheiro de hoje, mas a viabilidade do futebol brasileiro como indústria nos próximos 30 anos.



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