Eu me lembro de um dia comum que se transformou em ritual: vesti meu manto rubro-negro, respirei fundo e me deixei invadir pelo sentimento que só quem é Flamengo conhece. Porque, como dizem, “Sou Flamengo, não me peça para explicar. É só sentir e vibrar!”. Essa frase revela algo essencial: a paixão rubro-negra é visceral, um pulso que acelera o coração, impossível de racionalizar.
Em outro momento, me peguei refletindo sobre o sentido profundo dessa paixão. Dizia Artur da Távola:
“Quando o Flamengo vence há mais amor nos morros, mais doçura nos lares, mais vibração nas ruas. A vida canta. … Os filhos ganham presentes. Há mais beijos nas praças e nos jardins…”
É exatamente isso: meu orgulho se expande. As derrotas? São quedas, não fim. A vida, mesmo algo tão corriqueiro, se enche de cor quando o Flamengo joga – porque torcer é, antes de tudo, sentir-se vivo.
Relembro ainda outra voz, mais poética, que molda minha alma rubro-negra:
“Ser Flamengo é ser humano e ser inteiro e forte na capacidade de querer. É ter certezas, vontade, garra e disposição. … Ser Flamengo é deixar a tristeza para depois da batalha … alma de herói, cabeça de gênio militar e coração incendiado de guerreiro.”.
Não é só amor: é arte, é luta, é convicção. Espero dessa forma que cada deslize do time seja digerido com leveza, sem permitir que a tristeza vire rancor.
E é aqui que o storytelling dá uma guinada sombria: conheci torcedores cuja torcida era calculada. Eles exigiam do Flamengo confirmação de seus próprios êxitos, escudo para suas ilusões. Quando o time tropeçava, o sentimento não era resignação, nem frustração piedosa — era rancor. Era usar o Flamengo como pedestal para alimentar vaidades frustradas. Não torcem; se utilizam.
Esse é o antídoto à verdadeira paixão: transformar em rancor o ato de torcer. Quando o clube deixa de ser refúgio de alegria e vira instrumento de frustração, perco a vontade de assistir. Porque, para mim, torcer exige liberdade — a liberdade de rir da derrota, de zoar com o adversário, de continuar vibrando na tristeza.
Fecho com o que deveria ser o coração pulsante da torcida: o Flamengo é, afinal, a coisa mais importante entre aquelas que não têm nenhuma importância de fato na vida. E é nesse paradoxo que mora a beleza: viver essa paixão com alegria — e não com rancor — é o que justifica todo o desvelo.
Me desculpa se te dói, mas enfim, EU NASCI FLAMENGO e sou FELIZ COM ISSO SEMPRE.

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