Diziam que estava morto.
Mais uma vez.
E lá estávamos nós, ouvindo as mesmas vozes, as mesmas certezas, os mesmos discursos de sempre — “o time não tem mais alma”, “acabou a raça”, “esse Flamengo não é o de antigamente”.
Mas quem entende o que é ser Flamengo sabe: quando o mundo diz fim, o Flamengo começa o prólogo da próxima virada.
Porque o Flamengo tem esse dom antigo e quase místico de renascer das cinzas — não onde estava, mas onde achavam que ele estava.
E se há algo que essa camisa ensina há décadas é que não há placar, crítica ou profecia capaz de sepultar o que nasceu pra ressurgir.
Pega 1982.
O cenário era hostil.
Final do Brasileiro, jogo em Porto Alegre, contra o Grêmio, no Olímpico — o favorito era o time da casa.
Mas aquele Flamengo era pura combustão.
Zico, Nunes, Adílio, Andrade, Leandro… um time que jogava como se carregasse no peito não só o escudo, mas o peso de uma nação inteira.
E quando o apito final soou, o Maracanã se fez ouvir até no Sul: Flamengo campeão brasileiro.
Mais uma vez, os “acabados” tinham vencido.
Corta pra 1987.
Mais crise, mais dúvidas, mais apostas contra.
Diziam que era bagunça, que a política mancharia o futebol, que o campeonato não valia.
E o Flamengo, em silêncio, respondeu em campo.
Zico voltou a tempo, mesmo não totalmente recuperado, e junto com ele veio a força simbólica da mística, através de Renato, rubro-negra.
No fim, o mesmo roteiro de sempre: ceticismo fora, consagração dentro.
Campeão. De novo.
E então veio 2009.
Quantas vezes disseram “esse time é limitado”, “não tem elenco”, “o sonho acabou”?
O campeonato parecia perdido.
Mas bastou o empurrão invisível de uma Nação que nunca para de acreditar.
Petkovic colocou a bola na marca do escanteio, cruzou com a precisão dos deuses do Maracanã, e Ronaldo Angelim subiu como se tivesse asas.
Gol. O gol que não era só de título — era de ressurreição.
Do nada, o improvável se transformou em inevitável.
E quem esquece 2019?
Final da Libertadores.
O River Plate vencia até os 43 do segundo tempo.
Muitos já lamentavam, outros já escreviam o epitáfio da partida.
Mas Gabigol, em dois minutos, reescreveu a eternidade.
De repente, a vergonha virou glória, o silêncio virou grito, e a América inteira se curvou à camisa que insiste em renascer.
É assim que o Flamengo é.
E é por isso que o Flamengo é.
Porque no Flamengo não existe “morto” enquanto existir um torcedor de pé, respirando, acreditando.
A Nação é esse sopro que reacende o fogo.
A chama que teima em voltar a brilhar.
E é curioso: a cada geração, surgem os mesmos céticos.
Os que jogam a toalha cedo, os que preferem reclamar do técnico, do jogador, da diretoria.
Mas se você olhar pra trás, vai perceber — todas as grandes viradas do Flamengo começaram quando disseram que ele não conseguiria.
A mística se alimenta da descrença.
A força nasce da dúvida.
Zico resumiu uma vez, sem precisar de poesia:
“O Flamengo é diferente. Quando essa camisa entra em campo, ela muda tudo.”
E muda mesmo.
Muda o destino, muda o humor, muda o impossível.
Porque o Flamengo é mais do que um clube — é uma ideia viva de resistência.
Um lembrete de que o fim nunca é o fim, de que ainda dá tempo, de que é proibido desistir antes do apito final.
E é por isso que, mesmo quando o time tropeça, o canto da arquibancada não muda.
A torcida canta porque acredita, e o time acredita porque a torcida canta.
É uma simbiose que nenhum algoritmo, análise tática ou manchete consegue explicar.
Quando o estádio vibra e ecoa aquele grito ancestral —
“Vamo, Flamengo! Vamo ser campeão!” —
não é só esperança.
É fé.
A fé de quem já viu a morte ser desmentida por um chute, por um escanteio, por dois minutos de loucura divina.
A fé de quem entende que o Flamengo não precisa estar ganhando pra ser gigante — basta estar lutando.
Porque, no fim, ser Flamengo é isso:
É continuar acreditando mesmo quando o relógio parece te provocar.
É continuar cantando mesmo quando o placar tenta te calar.
É continuar acendendo a chama, porque a Nação é feita disso — de resiliência e fé.
E enquanto houver um coração rubro-negro batendo,
o Flamengo nunca vai morrer.
Ele pode cair, mas sempre vai se erguer.
Das cinzas, do caos, do descrédito.
Como a fênix que veste vermelho e preto — e que não nasceu pra descansar, mas pra recomeçar.

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