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FLAMENGO CAMPEÃO BRASILEIRO DE 1987

FLAMENGO X INTERNACIONAL
VITÓRIA SOBRE A FORÇA GAÚCHA


A grande final seria contra o Internacional, que havia eliminado o Cruzeiro, em pleno Mineirão. O antes desacreditado Flamengo teria que se desdobrar para encarar a força de um legítimo representante do futebol gaúcho. E o último capítulo desta epopeia teria início no Beira-Rio, no dia 6 de dezembro.
O Flamengo jogou o mais retrancado possível, fugindo de suas características. O gol saiu aos 30 minutos, graças à velocidade do ataque rubro-negro. Renato Gaúcho cruzou e Bebeto marcou. Dois minutos depois, o Inter empatou, com Amarildo. Tudo seria resolvido no Rio de Janeiro, no dia 13.
“Todo mundo que vem jogar contra o Flamengo, no Maracanã, já está sabendo da força que vai encontrar na arquibancada”, diz Renato Gaúcho. “E eu, antes mesmo de jogar no Flamengo, já sentia essa força. Eu sabia o que era encarar o Fla no Maracanã. Além de termos um grande time, liderado pelo Zico, nós tínhamos a força da torcida. Eu lembro que no meio do jogo caiu um urubu em campo. Caiu do meu lado. Eu peguei aquele urubu, coloquei atrás do gol do Internacional e aí a torcida foi à loucura. Logo depois, nós fizemos o gol.”
Era um dia de muita chuva e o campo estava encharcado, o que poderia ajudar o estilo de jogo dos colorados. Porém, os jogadores do Flamengo atuaram com muita raça e empurraram os gaúchos para trás. Logo aos 16 minutos, Andrade lançou Bebeto e ele chegou na bola, dentro da área, antes de Taffarel, tocando para o fundo das redes. Foi o quarto gol de Bebeto nos quatro últimos jogos. Depois, ao Jornal dos Sports, Bebeto disse:
“Acabei artilherio do Flamengo. Isso me emociona muito. Todo o time mereceu esse título. O gol nasceu de uma jogada que faço sempre com o Andrade. Ele toca pra mim e eu giro o corpo levando meu marcador. Achei até que a bola estava mais para o Taffarel. Mas entrei com tudo e cheguei na frente.”
No livro Grandes jogos do Maracanã, de Roberto Assaf e Roger Garcia, Bebeto relembra a final:
” O jogo decisivo do Brasileiro de 1987 foi um dos mais difíceis de que participei, pois colocou frente a frente o futebol carioca, com sua habilidade e técnica, contra o futebol gaúcho de muita aplicação tática e marcação. Dessa forma, os jogadores do Flamengo não tinham muito tempo para organizar as jogadas como fazíamos nos jogos anteriores. Foi um jogo muito pegado. Porém, num dos raros momentos de descuido na marcação, fiz o gol. A partir daí, o Inter foi obrigado a mudar sua característica, isto é, jogar ofensivamente em busca do empate. Mas conseguimos comandar as ações até o final.”
Nos poucos ataques que conseguia, o Inter sempre esbarrava numa defesa sólida, com Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo e com a ótima atuação do goleiro Zé Carlos, que estava numa grande fase da carreira. E o Flamengo também seguiu atacando o time gaúcho, mas não conseguiu fazer outro gol. Final: 1 a 0. Mengão Tetracampeão!
“Não podemos deixar de citar”, continua Bebeto, “que cinco jogadores daquele nosso time acabaram sendo tetracampeões mundiais:
Eu, Leonardo, Zinho, Jorginho e Aldair. E, para mim, foi uma realização pessoal poder jogar e conquistar um título ao lado do meu ídolo maior que era o Zico. E graças a Deus, tive a felicidade de fazer o gol do título que foi muito importante para a minha carreira. Foi um sonho realizado e hoje faço parte da vitoriosa galeria de títulos do Flamengo, clube do coração no qual joguei por oito anos com muito amor e dedicação, sempre buscando dar o melhor de mim.”
UM VERDADEIRO CAMPEÃO
A manchete do Jornal do Brasil foi ” Fla colore o futebol de vermelho e preto”. A reportagem reafirmava a legalidade do título rbro-negro:
” A imediata comoção que tomou conta de todos no Maracanã tratou de impor o direito que a CBF insiste em desprezar. Como deixar de reconhecer o mérito de campeão brasileiro a um time que, mesmo com seus altos e baixos, se destacou entre os 16 melhores do nosso futebol?
Como apagar a eufórica vibração? Como torná-la ilegal?”
O JB prosseguia sua análise, ressaltando as palavras do técnico Carlinhos:
” O rosto anônimo do torcedor apaixonado, molhado da chuva e com os respingos da própria lágrima, era o espelho da festa dos jogadores pelo título conquistado. O mesmo choro que Carlinhos procurava conter nos minutos finais do jogo, mas que não conseguiu prender ao ver o seu maior sonho realidade. Um campeão de verdade, um herói: ” Não posso destacar qualquer jogador na partida, mas não tenho como deixar de falar do Zico. Ele foi de uma importância fundamental para o Flamengo. Mas não apenas pelo nome que possui e que preocupa o adversário. O que destaco nele foi o espírito de união e a força que transferiu aos mais jovens, fazendo com que estes entrassem em campo psicologicamente em condições de render tudo o que podiam.”
O DESABAFO DO GALINHO
Zico desabafou, na época, em entrevista à revista Manchete:
“Fiquei triste, lendo nos jornais que eu estava acabado, que deveria parar, deixar de enganar o Flamengo. Foi duro enfrentar esses ataques. Eu não me sentia incapaz de continuar jogando. Aprendi a lidar com a minha limitação atual e ser útil ao Flamengo”.
Até o craque alemão Franz Beckenbauer, que estava no Maracanã (na véspera, em um amistoso em Brasília, Brasil e Alemanha haviam empatado por 1 a 1), deu seu palpite sobre a final: “Fiquei encantado com os toques rápidos do time do Flamengo e, principalmente, com Zico, que mostrou sua genialidade em vários lances.”
Hoje, Zico analisa tudo com o distanciamento histórico:
“Era um time tecnicamente muito bom. Tinha o Zé Crlos, o Jorginho, o Leandro, o Andrade, o Aílton, o Zinho, o Bebeto, o Renato…
Era só craque. Para mim, foi uma conquista obtida nos “acréscimos” (risos). Estava com os meniscos arrebentados. Tinha que operar, mas aí não jogaria. Os médicos então deram uns pontos no joelho. Não podia saltar e me apoiar na perna esquerda na queda. Mas quando fiz aquele gol de falta contra o Santa Cruz, atravessei o campo para comemorar com o Zé Carlos, que reclamava que nunca participava das comemorações dos gols. Prometi a ele que se fizesse um gol ele receberia o primeiro abraço. Fiz isso. Dei um pulo em cima dele, porém, quando caí, sem querer, me apoiei com a perna esquerda. Os pontos arrebentaram na hora. Nos jogos seguintes, contra o Atlético, meu joelho inchava muito. Ficava o tempo todo com uma bolsa de gelo fazendo tratamento. Nem pude comemorar o título direito. No dia seguinte a final contra o Inter, bem cedo, estava no hospital fazendo uma cirurgia para tirar os meniscos.
“Ninguém me tira essa conquista”, prossegue Zico. “Quem levou porrada fui eu, quem se sacrificou fazendo tratamento 24 horas para jogar fui eu. Tenho sangue e passaporte português. E se eu chegar em Portgugal e contar que aqui no Brasil a CBF não considera esse título porque no campeonato de 1987 o campeão da Primeira Divisão tinha que disputar a condição de melhor do Brasil com o campeão da Segunda Divisão, vão dizer que é piada. E realmente é. Não tem jeito. O flamengo é hexa!”.
Se vivo fosse, o tricolor Nelson Rodrigues certamente escreveria:
“Só os idiotas da objetividade não aceitam o óbvio ululante”.
TEXTO RETIRADO DO LIVRO 6 X MENGÃO AUTOR: PASCHOAL AMBRÓSIO FILHO MAQUINÁRIA EDITORA

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