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EM JANEIRO DE 59 …

 



Logo de cara digo que não estou batalhando pelo 4o título da Libertadores. Apenas contando história mesmo.

Entre os meses de Janeiro e Fevereiro do ano da graça de 1959 aprouve a Conmebol promover um torneio, que seria o embrião da Copa Libertadores de América, iniciada oficialmente no ano seguinte.

O torneio se chamou “Gran Serie Suramericana Inter Clubs”, um hexagonal disputado na cidade de Lima, Peru, contando com a participação de Flamengo, pelo Brasil, River Plate, Argentina, Peñarol, Uruguai, Colo-Colo, Chile, e Alianza Lima e Universitário do Peru.

O Flamengo era dirigido há quase seis anos pelo paraguaio Manuel Fleitas Solich, nome lendário do clube, e tinha vários remanescentes do time tricampeão carioca em 1953-54-55. Na defesa, o vigoroso central Pavão, o quarto-zagueiro Jadir (que chegou a jogar na Seleção de Vicente Feola) e o lateral Jordan. No meio, o jogo clássico do capitão Dequinha e a malícia de Moacir. E na frente, a dupla Henrique e Dida, dois dos maiores goleadores da história rubro-negra.

Naquele segundo semestre de 1958, porém, a equipe havia perdido seus ponteiros campeões do mundo com a seleção brasileira. O ponta-esquerda Zagallo, que quase foi para o Palmeiras, acabou vendido ao Botafogo em agosto. E o ponta-direita Joel, dono da posição há sete anos, migrara para o futebol espanhol, negociado com o Valencia bem no meio da disputa do Campeonato Carioca.

Com o versátil Luís Carlos na direita e o miúdo (apenas 1,54 metro de altura) e driblador Babá na esquerda, o time ainda disputava então a reta final do Carioca quando o convite para o torneio em Lima foi feito. O certame do Rio de Janeiro, porém, ainda se estenderia até 17 de janeiro graças a um incrível equilíbrio entre seus principais postulantes ao título: ao fim dos pontos corridos houve um empate triplo entre Flamengo, Vasco e Botafogo. Depois de mais um empate num triangular decisivo, teve outro triangular que deu o título ao Vasco.

O torneio começa

Essas etapas extras provocaram, além do desgaste físico e mental dos jogadores, a necessidade de adiar a entrada do Fla no hexagonal de Lima. O pedido foi aceito, e o time embarcou no Galeão em 21 de janeiro, enquanto o torneio já rolava na capital peruana. Com tabela remarcada, a estreia, que seria contra o Universitario, passou a ser contra o fortíssimo Peñarol, campeão uruguaio, e que no ano seguinte venceria a primeira edição da Libertadores.



Esse primeiro jogo foi Peñarol 2x0 Flamengo, no dia 23/01/1959, dias 25 e 28 respectivamente, o Flamengo venceu por 2x0 o Universitario e por 4x2 o Colo-Colo. No dia 03/02, temos o primeiro Flamengo x River Plate da história, nesse jogo uma vitória do time Argentino teria dado o título a eles, mas o Flamengo foi lá e sapecou um 4x1, terminando em primeiro lugar, sendo campeão do torneio. O título foi confirmado com mais uma vitória sobre o Alianza Lima por 4x3

Essa foi a tabela completa:

14/01/1959 Universitario 3 – 1 Colo-Colo

17/01/1959 Colo-Colo 3 – 2 Alianza Lima

17/01/1959 River Plate 2 – 1 Peñarol

20/01/1959 Universitario 2 – 1 River Plate

23/01/1959 Alianza Lima 1 – 1 River Plate

23/01/1959 Peñarol 2 – 0 Flamengo

25/01/1959 Peñarol 5 – 0 Colo-Colo

25/01/1959 Flamengo 2 – 0 Universitario

28/01/1959 Flamengo 4 – 2 Colo-Colo

28/01/1959 Alianza Lima 2 – 0 Universitario

31/01/1959 River Plate 2 – 0 Colo-Colo

31/01/1959 Alianza Lima 1 – 1 Peñarol

03/02/1959 Flamengo 4 – 1 River Plate

06/02/1959 Universitario 2 – 2 Peñarol

06/02/1959 Flamengo 4 – 3 Alianza Lima


Classificação final


Times

P

J

V

E

D

GP

GC

SG

1    

Flamengo

8

5

4

0

1

14

8

+6

2

Peñarol

6

5

2

2

1

11

5

+6

3

Universitario

5

5

2

1

2

7

8

-1

4

River Plate

5

5

2

1

2

7

8

-1

5

Alianza Lima

4

5

1

2

2

9

9

0

6

Colo-Colo

2

5

1

0

4

6

16

-10

Um pouco dos jogos.

Peñarol 2x0 Flamengo

A estreia do Flamengo, na sexta-feira, dia 23, não foi muito feliz: ainda cansados da maratona do Carioca, os rubro-negros fizeram um bom jogo, em especial com Moacir no meio, mas o Peñarol abriu o placar na etapa final com Rubén Coccinello e selou a vitória com Carlos Borges aos 44. Para piorar, o volante Dequinha, esteio do meio-campo do Fla, lesionou-se no começo do jogo, sendo substituído pelo zagueiro Pavão, passando Milton Copolilo para o meio.

Flamengo 2x0 Universitario

Para a partida seguinte, agora sim contra o Universitario, dois dias depois da estreia, Fleitas Solich fez algumas mudanças no time, mantendo a alteração realizada durante o jogo com o Peñarol e trazendo o camisa 10 rubro-negro Dida, refeito do desgaste, de volta à equipe titular. Os cremas, por sua vez, tinham o reforço de um dos maiores jogadores do país na ocasião, o atacante Roberto “Tito” Drago, cedido pelo Deportivo Municipal.

Mais aclimatado e sem se intimidar com a torcida da casa, o Flamengo matou o jogo logo no primeiro tempo e venceu por 2 a 0, com gols de Milton Copolilo, concluindo jogada de Moacir e Babá, e do próprio Dida, após passe de Moacir. Embalado pela primeira vitória, o time carioca teria pela frente o Colo-Colo, que vinha decepcionando (apanhara de 5 a 0 do Peñarol em seu jogo anterior) e pretendia pelo menos recuperar sua imagem.

Flamengo 4x2 Colo-Colo

Desfalcado do goleiro Misael Escutti, abalado com a goleada sofrida para o Peñarol, o Cacique teria, porém, um reforço: a volta do meia Enrique Hormazábal, uma de suas referências técnicas, além de contar também com o atacante Jorge (ou George) Robledo, que havia atuado por muito tempo no futebol inglês defendendo o Newcastle. O azar dos chilenos foi que os rubro-negros começaram arrasadores: em 22 minutos de jogo, marcaram quatro vezes.

Luís Carlos abriu o placar, Moacir ampliou e Babá anotou dois, antes de Hormazábal e Rodríguez descontarem já no segundo tempo, quando o Flamengo baixara o ritmo. A vitória, aliada aos outros resultados, alçou os cariocas à liderança do torneio, ao lado do Peñarol. Para melhorar, os jogadores teriam enfim alguns dias de descanso, voltando a campo só seis dias depois, na noite de terça-feira, 3 de fevereiro, para enfrentar o River Plate, em jogo isolado.

Flamengo 4x1 River Plate

Dirigidos por um nome histórico do futebol platino, José Maria Minella, o River Plate já vivia o segundo ano do que seria seu maior jejum de todos os tempos (campeões em 1957, só voltariam a levantar taças em 1975, 18 anos depois), mas ainda reuniam um punhado generoso de ótimos jogadores, também remanescentes de um tri, o nacional em 1955-56-57, com a equipe que entrou para a história do clube como “La Maquinita”.



No time levado a campo, eram os casos do zagueiro José Ramos Delgado (que mais tarde jogaria no Santos), do lateral Federico Vairo, do meia Héctor De Bourgoing (que defendeu a Albiceleste e migrou para a França, jogando o Mundial de 1966 pelos Bleus), do centroavante Norberto Menéndez (goleador que mais tarde seria ídolo também no rival Boca Juniors) e do ponta-esquerda Roberto Zárate, outro nome histórico dos Millonarios.

O time entrou com a mesma escalação das duas vitórias anteriores. Na defesa, o goleiro Fernando, os laterais Joubert e Jordan, Pavão na zaga central, Jadir de quarto-zagueiro e Milton Copolilo de volante. Na frente, a linha tinha Luís Carlos, Moacir (que mais tarde jogaria no próprio River), Henrique, Dida e Babá. E após início equilibrado, em que os argentinos chegaram a acertar a trave, aos poucos o Flamengo foi se impondo.

Pouco antes do intervalo, os comandados de Fleitas Solich balançaram as redes duas vezes – Luís Carlos aos 42 e Henrique aos 44 – em rápidas escapadas pelas pontas e chutes cruzados. Na etapa final, o River Plate ensaiou reação quando “Beto” Menéndez descontou aos 16. Mas logo no reinício do jogo, Henrique passou a Moacir, que lançou Babá. O ponta devolveu a Henrique para bater e marcar o terceiro gol rubro-negro.

O triunfo já encaminhado transformou-se em goleada aos 24 minutos, quando Babá aplicou um drible desmoralizante em seu marcador e finalizou com um chute inapelável, sem chance para o goleiro Manuel Ovejero. O placar de 4 a 1 decretou uma “vitória justa, insofismável e sem apelação”, que consagrou o “domínio técnico, tático e territorial” do Flamengo sobre o River Plate, segundo a crônica do Jornal dos Sports.



O grande resultado também alçou enfim o time rubro-negro à liderança isolada do hexagonal, com seis pontos ganhos em quatro jogos, contra cinco do Peñarol e do próprio River (que já encerrara sua participação) e quatro da dupla peruana Universitario e Alianza, além do Colo Colo, lanterna com apenas dois pontos. Faltava apenas a rodada decisiva, a ser disputada no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira de Carnaval no Rio de Janeiro.

Flamengo 4x3 Alianza Lima e a virada épica na decisão

Peñarol e Universitario disputariam a preliminar, enquanto o Flamengo – com o capitão Dequinha de volta, no lugar de Milton Copolilo, mas agora desfalcado de Dida – encerraria o torneio contra o Alianza, clube mais popular do Peru, no Estádio Nacional de Lima. O empate (2 a 2) no primeiro jogo da noite levou temporariamente o Peñarol aos mesmos seis pontos do Flamengo, que passaria a precisar de pelo menos a igualdade diante dos blanquiazules.

Entretanto, empurrados por sua torcida que lotou o estádio, os jogadores peruanos foram para cima e abriram uma incrível vantagem: Victor “Pitín” Zegarra e Félix Castillo marcaram na primeira etapa e o mesmo Zegarra ampliou aos 10 minutos do segundo tempo, para delírio dos mais de 32 mil torcedores. Mas o Fla empreenderia uma virada sensacional, comandada justamente pelo substituto de Dida, o atacante Manoelzinho.

Um minuto depois do terceiro gol peruano, ele recebeu de Babá e descontou. Dois minutos depois, escorou de cabeça um escanteio e anotou o segundo. Aos 16, ele recebeu novamente de Babá para empatar o jogo e silenciar o Estádio Nacional. E a virada veio no minuto seguinte, quando o mesmo Manoelzinho soltou uma bomba que o goleiro Bazán não conseguiu segurar e deu rebote para um chute forte e de primeira de Henrique.

Em menos de dez minutos, o Flamengo saiu de um 3 a 0 contra para uma vitória por 4 a 3 na casa do adversário com estádio lotado. Ao apito final, a torcida limenha saiu do transe hipnótico para aplaudir a formidável exibição dos cariocas no segundo tempo. No meio do público estava o conceituado jornalista francês Gabriel Hanot, que escreveu para o diário L’Équipe suas impressões a respeito do hexagonal.



Sobre o Flamengo, Hanot comentou que embora os rubro-negros não estreassem com o pé direito, “fartaram-se de jogar com objetividade, animados por um estilo incontrolável”. Lembrou que os jogadores se apresentaram “visivelmente cansados”, mas ressalvou: “Bastou, no entanto, que se refizessem, para transporem as dificuldades surgidas. É uma equipe possuidora de excepcional espírito de luta, desconcertante na sua agilidade física e mental”.

O jornalista havia sido um dos idealizadores da Copa dos Campeões europeia, torneio que logo ganharia enfim seu correspondente sul-americano. No mês seguinte, num congresso em Buenos Aires, a Conmebol anunciava para 1960 a criação da quase homônima Copa dos Campeões da América. Cinco anos depois de instituída, a competição seria rebatizada com o nome pela qual ficaria eternizada: Copa Libertadores da América.



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