"Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte:- quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas, tremem, então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará à camisa, aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável."
- Nelson Rodrigues
🏟️ O choque inevitável entre dois mundos
Falar de Mundial de Clubes, nos dias de hoje, é antes de tudo encarar uma realidade desconfortável: há um abismo quase intransponível entre Europa e América do Sul.
Não é discurso derrotista, nem complexo de vira-lata. É pura matemática. A diferença entre um time europeu e um sul-americano começa nos bilhões de euros em faturamento, na estrutura, no nível de treinamento, na ciência aplicada ao esporte e na capacidade de montar elencos em que o banco de reservas vale mais que muitos campeonatos inteiros do nosso continente.
“O futebol moderno é uma máquina de moer sonhos sul-americanos.”
— Diria qualquer analista honesto olhando a planilha de receitas.
Mas aí entra um problema na equação. Um problema chamado Flamengo.
🔥 O Flamengo não entra em campo só com 11.
Como dizia Nelson Rodrigues, esse gênio de frases eternas:
“O Flamengo é o único clube que tem uma Nação.”
O Flamengo entra em campo com uma camisa que carrega mais que patrocinadores. Carrega história, transcendência e uma insolência poética diante da lógica.
O abismo é real, mas quem disse que a camisa do Flamengo não voa?
“A camisa do Flamengo é um manto sagrado. Não é tecido. É pele, é religião.”
— Já dizia Arthur Muhlenberg, cronista da alma rubro-negra.
🎭 Nenhuma expectativa. Toda a expectativa.
Sim. A razão diz para não esperar.
Mas é aí que está o problema.
O Flamengo nunca coube na razão.
É o clube que nasceu da rebeldia de um grupo de remadores, se recusou a ser pequeno, se recusou a ser regional, se recusou a aceitar qualquer limite.
É o clube que atravessou gerações, que transformou Maracanã em templo, que parou o Rio, que parou o Brasil e que, em 2019, parou o mundo por cinco minutos, entre Gabigol aos 43 e aos 45.
“O Flamengo não é time. O Flamengo é um estado de espírito.”
— Zico, eterno.
Então sim: nenhuma expectativa, porque a Europa é uma máquina.
⚖️ O jogo não é só futebol.
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É a diferença entre o dinheiro e o milagre.
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É o embate entre quem compra os melhores e quem produz ídolos na raça.
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É o choque entre a engenharia financeira da Premier League e a engenharia de esperança que vive em cada esquina do Brasil, vestida de vermelho e preto.
Eles têm grana. A gente tem o Flamengo.
🕯️ Se for pra cair, que caia lutando. Mas se for pra ganhar… ah, se for pra ganhar...
Não tem estatística, não tem algoritmo, não tem scout que me convença de que não dá. Porque se tem uma coisa que o Flamengo ensinou ao mundo é que não se brinca com quem sabe fabricar milagres.
“O Flamengo é um desaforo permanente contra a realidade.”
— (Provavelmente, alguma faixa no Maracanã ou uma tatuagem na pele de milhões.)
🚩 Conclusão — No fim das contas, é o Flamengo.
Se vai dar? Não sei.
Se é difícil? Sempre foi.
Se é impossível? Cuidado. Pergunta pro River Plate.
O que eu sei é que, quando o juiz apita, aquele monte de euro perde força, e quem entra em campo é uma camisa que não pesa — ela voa.
O Flamengo não joga futebol. O Flamengo joga outro esporte. Um esporte chamado “Fazer o improvável parecer normal.”
“O Flamengo é uma religião que se joga às quartas e domingos.”
— Rubro-negro anônimo, de algum lugar entre a arquibancada e a eternidade.
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