Voltou-se muito a falar de Fair Play
Financeiro (FPF), mas o que é isso? Primeiro vamos ao que não é. FPF não tem a
pretensão de equalizar os gastos dos clubes como é feito nas franquias americanas,
principalmente NBA. Não tem nenhuma relação como impedir que alguns times
tenham muita arrecadação e outros menos, nem impedir que quem tenha recursos os
use.
O FPF tem como razão de ser
basicamente a questão de evitar que os clubes gastem o dinheiro que não tem, se
endividem e assim terminem por prejudicar todo o ecossistema, abrindo falências,
ou vivam no chamado dopping financeiro, montando times além dos
seus recursos, prejudicando assim equipes que tem bom controle financeiro
montando times mais fracos.
Então como isso é feito?
Varia dependendo da liga. Mas
existem regras como.
·
Limitação de gastos a um percentual da
arrecadação.
·
Limitação da dívida líquida. (Receber – Pagar)
·
Limitação da solvência que é a relação dívida/receita
·
Limitação dos valores num tempo estipulado de
prejuízos.
·
Exigência de pareceres positivos de auditorias
independentes.
·
Patrimônio Líquido[1]
superior ao Patrimônio Elegível[2]
O quadro a seguir é de uma
apresentação de Cesar Grafieti, especialista no assunto:
As sanções normalmente são:
·
Proibição de novas contratações
·
Dedução de pontos nas competições
·
Rebaixamento nas ligas
·
Obrigação de se submeter a uma intervenção para
promover o ajuste
·
Proibição em participar de competições
É importante ressaltar que os
itens até agora se referem basicamente aos gastos mas há uma preocupação mundialmente
crescente em evitar que surjam ricaços injetando dinheiro nos clubes sem
qualquer lastro que como figuras de mecenas, países tentando usar o clube como
marketing nacional, e também coibir lavagem de dinheiro.
Num levantamento aproximado no
quesito dívida / receita hoje teríamos
Clube |
Receita (R$ mi) |
Dívida (R$ mi) |
Dívida/Receita |
Flamengo |
1.334 |
327 |
~0,25 |
Palmeiras |
1.274 |
825 |
~0,65 |
Corinthians |
1.115 |
2.560 |
~2,30 |
São Paulo |
732 |
968 |
~1,32 |
Fluminense |
684 |
632 |
~0,93 |
Atlético‑MG |
674 |
2.300 |
~3,42 |
Internacional |
621 |
1.250 |
~2,01 |
Santos |
459 |
645 |
~1,40 |
Bragantino |
425 |
414 |
~0,97 |
Grêmio |
403 |
562 |
~1,40 |
Cruzeiro |
308 |
981 |
~3,18 |
Vasco |
474 |
1.200 |
~2,52 |
Botafogo |
700 |
730 |
~1,04 |
Bahia |
273 |
1.310 |
~4,80 |
Vitória |
177 |
274 |
~1.55 |
Juventude |
131 |
1 |
0 |
Mirassol |
60 |
0 |
0 |
Sport |
136 |
340 |
~2,50 |
Ceará |
162 |
57 |
~0,35 |
Fortaleza |
232 |
80 |
~0,34 |
Os números são aproximados, e a
solvência não é o único critério na saúde financeira de uma organização, mas
fica claro que com Fair Play Financeiro equipes como Fortaleza, Ceará, Mirassol
e Juventude brigariam muito mais de igual para igual com Vasco, Cruzeiro,
Atlético MG, Internacional e Corinthians, por exemplo.
O Bahia acima é um caso a parte
porque sua dívida está equacionada em longo prazo com o grupo City por trás.
Como citamos o índice de solvência não é o único critério.
Regras simples tais como
·
Atrasos de pagamentos a outros clubes
·
Atrasos de pagamentos a atletas e funcionários
(salário e imagem)
·
Atrasos de pagamentos de acordos de dívidas
existentes (jogadores e treinadores)
Como travas para novas contrações
ou mesmo uso dos atletas envolvidos já ajudariam muito.
[1] Patrimônio
líquido é a diferença entre os ativos e os passivos de uma entidade — ou
seja, o que realmente pertence ao dono (capital próprio).
[2] Patrimônio
elegível é a parte do patrimônio líquido que pode ser considerada válida
para cumprir regras específicas (como exigências regulatórias de capital),
geralmente após ajustes e exclusões determinadas por normas.
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