No futebol brasileiro, a nova tendência não é melhorar. É nivelar, por baixo, se possível. A proposta agora é simples e genial: montar uma liga organizada... desde que o Flamengo tope abrir mão de parte da grana que ele mesmo trabalhou anos para conquistar.
E como não amar isso? O clube que tem centro de excelência, folha salarial em dia, estádio sempre cheio e o maior contrato individual de TV do país, fora placas e outras propriedades publicitárias — precisa agora ser convencido a “dividir melhor” com quem ainda vive em 1998, como se usasse fax e borderô escrito à mão.
Flamengo teve em 2023 uma receita superior a R$ 1,3 bilhão. Isso mesmo. Com venda de jogadores, matchday forte, patrocínios pesados, sócio-torcedor e — sim — um contrato de TV mais vantajoso, porque ele vale mais. Mas para a ala dos clubes “unidos pelo fracasso bem dividido”, isso é injusto.
Clubes que arrecadam R$ 200 milhões ou menos, devem meses de salários, e ainda acham que planejamento é superstição, agora levantam a bandeira da justiça: “Queremos metade do que o Flamengo recebe!” — como se “igualdade” fosse sinônimo de transporte de qualidade de gestão.
É como ver um aluno que estudou o ano inteiro ser obrigado a rasgar parte da prova e entregar para o colega que faltou às aulas, porque “todo mundo merece uma média”.
E o argumento é sempre o mesmo: “Com mais dinheiro, também seríamos competitivos!” Claro. Porque gestão, estrutura, análise de desempenho, nutrição, scout, estratégia digital, marketing, base forte e torcida engajada são só perfumaria. O que falta é dinheiro, de preferência dos outros.
Sabe aquele meme do cara no churrasco dizendo: “Pô, mas sobrou carne aí?” — enquanto não trouxe nem carvão? Pois bem. É basicamente a filosofia de parte dos clubes no debate da liga.
Enquanto o Flamengo — que têm torcida, receita e estrutura — tenta construir uma liga com governança, estatuto e profissionalismo, os outros parecem mais preocupados em negociar desde já quanto da receita do Flamengo será “redistribuída”. Porque o que importa não é a sustentabilidade da liga. É o quanto dá pra tirar do topo.
No fim das contas, querem uma liga moderna com práticas medievais: onde quem planta não colhe sozinho, mas divide com quem só assistiu a lavoura do camarote.
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