FLAMENGO X ATLÉTICO MG – 1981
Toda hora vem alguém do Botafogo sem praia choramingar sobre esse jogo de 1981. Mas você realmente sabe o que aconteceu?
A narrativa é que foi o maior roubo da história mas faz sentido essa afirmação? Vamos a alguns detalhes.
O nome desse jogo mais citado é o de José Roberto Wright pela Libertadores de 1981. Antes de qualquer coisa lembremos a bem da verdade que o nome dele foi aprovado pelo Atlético MG e que ao contrário do que se fala hoje ele pertencia a Federação Gaúcha e não a Federação Carioca
Mas mesmo assim se acusa um favorecimento. Vamos aos fatos.
Pra entender essa história, é preciso voltar um pouco antes de 81, quando os embates entre os clubes realmente começaram.
Tratamos da final de 1980 aqui
https://urubulando.blogspot.com/2022/02/flamengo-x-atletico-mg-1980.html.
O time mineiro não tinha fama de ser muito exemplar dentro de campo. Muitos jogadores eram tidos como violentos, Chicão, Éder, Palhinha, e mesmo mais técnicos como Cerezo, Reinaldo e Luizinho, o que se comprovou logo no jogo de ida na final de 1980.
Naquela Libertadores, Flamengo e Atlético estavam no mesmo grupo, juntamente com Olímpia e Cerro Porteño. Ao final da fase de grupos os times estavam empatados em 8 pontos. Na época o regulamento dizia que passaria de chave aquele que vencesse um jogo extra, realizado em campo neutro.
A birra atleticana, que não é coisa nova, se iniciou logo na hora de decidir o local onde o jogo seria disputado. A diretoria flamenguista sugeriu três estádios: o Castelão, a Fonte Nova, e o Serra Dourada. Também foi sugerido (pelos representantes rubro-negros) um sorteio entre Maracanã e Mineirão.
Já o Galo preferia o Morumbi (ou qualquer outro estádio não sugerido pelo Flamengo). A Confederação Sul-Americana escolheu o Serra Dourada, considerado na época o estádio com o melhor gramado do país, havia sido recém reinaugurado. A seleção brasileira vinha inclusive mandando jogos lá.
O nome de José Roberto Wright como juiz do jogo foi colocado em pauta pelos alvinegros e acatado por todos. O árbitro era filiado a federação gaúcha de futebol, logo nada teria a ver com o futebol carioca ou mineiro.
Pesou para a escolha de Wright também o fato de já ter apitado Fla x Galo, pela Libertadores daquele mesmo ano.
O jogo foi no Mineirão, e acabou empatado em 2x2. Ali surgiu a primeira polêmica de Wright.
Mas pra começar a falar definitivamente sobre o jogo, é importante ressaltar que ele talvez nem acontecesse sem uma ação da diretoria atleticana no mínimo antiética e hoje até considerada ilegal, a diretoria atleticana ofereceu dinheiro ao Olimpia supostamente para endurecer o jogo com o Flamengo, mas a época ventilou-se até a hipótese de ter sido para facilitar o seu jogo com o mesmo Olimpia.
Sobre o jogo de desempate propriamente dito começou bastante violento com faltas duras de ambos os lados. Primeiro Nunes acertou Éder no meio de campo, depois Leandro foi acertado por Reinaldo e Palhinha e assim o jogo seguia. Telê Santana, comentando, chega a citar um embate agressivo entre Palhinha e Tita, que tinham rivalidades acesas por confrontos anteriores, igualmente alerta: - "O José Roberto também tem que ter cuidado com isso, porque senão as coisas pioram..."
Após muitas faltas duras e um jogo que antes dos 30 minutos já tinha 5 cartões amarelos (4 pro Atlético), Wright chamou os capitães ao centro do campo. Segundo Zico, outros jogadores, alguns repórteres e o próprio Wright, o papo foi curto e grosso: - "Vão lá e falem pros seus times que o primeiro cara que fizer uma falta dura ou por trás, eu vou dar cartão vermelho direto. Pode avisar!"
Na própria transmissão o saudoso Raul Quadros relata isso na hora.
Mas logo em seguida, Reinaldo acertou Zico com uma tesoura por trás num lance sem nenhuma necessidade no meio de campo, tipo menino birrento que quer testar se a bronca do pai está valendo mesmo, resultado? Foi expulso sumariamente. Acabou qualquer resquício de futebol nesse momento. Num lance pouco tempo depois Éder deu um esbarrão, aparentemente proposital, no árbitro e segundo Wright falou alguma coisa, também foi expulso. Palhinha e Chicão, violentos e encrenqueiros notórios também foram expulsos por reclamação. Puxados pela diretoria do Galo, os reservas entraram em campo e deram início a outra confusão, que paralisou o jogo por cerca de 30 minutos.
Wright até tentou reiniciar o jogo, mas o goleiro João Leite simulou lesão e caiu em campo, interrompendo novamente a partida. O camisa 1 procurava a expulsão, pois sem o número suficiente de jogadores em campo, o jogo seria suspenso. Wright percebeu e mandou João se levantar. Mas o zagueiro Osmar pegou a bola com as mãos e se negou a devolver, sendo assim o 5° e último expulso daquele dia.
Curiosamente, não foi a primeira vez que se viu um jogo do Atlético ser encerrado precocemente devido a indisciplina desportiva.
Nesse mesmo ano em 27 de abril em um “amistoso” contra o Moto Clube o jogo terminou na metade do último tempo depois que 4 jogadores atleticanos e o técnico do time foram expulsos todos eles por reclamação. Ai a diretoria tirou o time de campo perdendo por 2 a 0. Ou seja o Peter CAM é acostumado no mimimi.
A pilha do patético com o Flamengo é tão grande que um atleticano ilustre, Roberto Drummond, publicou um artigo em 1982: - “Uma obrigação, por sinal, que só ajuda ao Flamengo, na medida em que os jogadores do Atlético entram em campo carregando um peso mais elevado que as sacas de café que os estivadores de Santos ... carregavam: a obrigação de liquidar o Flamengo de Zico e Raul. O resultado, vocês sabem: os jogadores do Atlético perdem a cabeça, como Reinaldo perdeu várias vezes, acabam expulsos e acontecem cenas como as do Serra Dourada."
Muita gente diz que, se completo, o Atlético ganharia do Flamengo naquele jogo. Eis aqui os números de 5 confrontos de rubro-negros x alvinegros que precederam aquele jogo:
Flamengo 3 x 2 Atlético-MG (01/06/80)
Flamengo 2 x 1 Atlético-MG (08/03/81)
Atlético-MG 0 x 0 Flamengo (25/03/81)
Atlético-MG 2 x 2 Flamengo (03/07/81)
Flamengo 2 x 2 Atlético-MG (07/08/81)
O mal do Galo é cultivar a neurose do Flamengo.
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